As tangências entre as abordagens da Gestalt Terapia e da Psicologia Budista (se é que podemos falar de apenas uma Psicologia Budista, tendo em vista tantos cortes dentro da mesma raiz dos ensinamentos) são bastante claras, às vezes revelando visões extremamente parecidas.

Lama Padma Samten, um dos brasileiros mais importantes no Budismo Tibetano Vajrayana, diz que “a origem do sofrimento está em colocar a experiência de felicidade na dependência de algo externo“.

Isso está permeado em praticamente tudo em que a Psicologia Budista toca, como no ensinamento da impermanência, que vê a impossibilidade de tomar as coisas externas como fixas ou permanentes, e até mesmo na postura da meditação do Buda, que sentado equilibrado com a coluna ereta sobre o tripé do próprio corpo é a própria base e apoio de si mesmo.

Fritz Perls, o criador da Gestalt Terapia, acreditava que maturidade é “a transição do apoio ambiental para o auto-apoio“.

E entre as técnicas gestálticas está a de não elocubrar sobre o outro, e voltar-se à própria experiência, de novo e de novo, até que haja a revelação do mecanismo de defesa e o consequente passo para a auto-responsabilidade (outro eixo central dessa abordagem).

Em ambos os enunciados está a visão de que a dependência de algo externo para sua própria autonomia e realização é um sinal de imaturidade e/ou vida em sofrimento. Em ambas os métodos há uma ênfase no processo de awareness para reconhecer o sofrimento, a causa e a transformação da compreensão iludida.

Muitas vezes, a dificuldade de ver e reconhecer a dependência do externo é muito forte, ao ponto de se tornar e contribuir para um processo neurótico, outras vezes há mais dificuldade em se despreender de uma situação de dependência, mesmo já tendo reconhecido o sofrimento que advém dela. Em ambos os casos a abordagem terapêutica gestáltica busca a consciência e o desenvolvimento da atitude que será o caminho da maturidade, do auto-apoio e que, em escala espiritual, da emancipação do sofrimento.

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Imagem: Monumentos de Budas, nas ruinas de Ayutthaya, velha capital da Tailândia.
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