Por Luiz F. Pereira
Terapeuta, Hridaya Terapia
Poucas abordagens psicológicas ou terapêuticas ocidentais tem uma simbiose tão evidente e poderosa como a Gestalt Terapia e a Meditação. A terapia preconizada por Fritz Perls, principal abordagem que usamos na Hridaya, a Gestalt teve como uma de suas bases a “awareness“, conceito que se popularizou no Ocidente atribuído em boa parte ao Budismo (que Fritz Perls conheceu de perto) e seus métodos de meditação, principalmente Shamata e Vipássana. A “awareness” é também traduzida como “percatarse” no espanhol, e por “dar-se conta” em português coloquial, e de fato a Gestalt Terapia já foi traduzida informalmente como “terapia do dar-se conta”. Praticamente todos os principais métodos de meditação visam o aprofundamento em si mesmo, que é uma prática da família do “dar-se conta”, ou da auto-percepção, ou ainda da percepção mais ampla da existência que acontece em si mesmo, a cada momento.
O mestre chileno, terapeuta, psiquiatra e autor Claudio Naranjo escreveu várias vezes sobre esse encontro de Gestalt Terapia e Meditação, inclusive um livro inteiro sobre isso (“Entre Meditação e Psicoterapia”), e de sua autoria o parágrafo abaixo, do livro “La Vieja Y Novissima Gestalt”, de 1989:
“Há muitos pontos de contato entre a terapia gestáltica e a meditação. Em certo sentido, poderia ser dito que a terapia gestáltica é meditação em um contexto interpessoal. O primeiro elemento em comum entre os dois domínios é que a Gestalt é um treinamento em tomada de consciência, e um componente fundamental da meditação é o cultivo da capacidade de se dar conta. A prática de prestar atenção à experiência em andamento, aprofundando a tomada de consciência do aqui e agora, é comum a ambas, apesar de que, de maneira geral, a meditação se pratica de forma solitária, enquanto a terapia gestáltica acontece em relação com os outros. E as tradições de meditação conhecem uma etapa da tomada de consciência mais além do dar-se conta do aqui e agora: um dar-se conta refletido em si mesmo, que se devora a si mesmo e se dissolve em uma condição de consciência sem um objeto”.
— CLAUDIO NARANJO, em “La Vieja y Novisima Gestalt” (pg.209)