“(…) A idéia de que mente e corpo constituem dois aspectos diferentes da existência, diferentes e completamente separados, era uma noção que Perls, assim como os existencialistas, achavam intolerável. De acordo com suas objeções, assim como não poderia haver cisão entre mente e corpo, abandonou também a idéia da cisão entre sujeito e objeto e, mesmo, a da cisão entre organismo e meio. Ao invés de considerar que cada ser humano encontra um mundo que ele experimenta como sendo completamente separado de si mesmo, Perls acreditava que as pessoas criam e constituem seus próprios mundos. Dessa forma o mundo existe para um dado indivíduo como sua própria descoberta do mundo.
— “Gestalt terapia” (Psiqueweb).

A busca da compreensão desse próprio parágrafo acima também é uma descoberta do mundo. E cada um fará sua descoberta individual, seu próprio mundo, na busca dessa compreensão. Não temos um mundo dado, mas a nossa experiência do mundo, que é nossa descoberta do mundo.

Assim, nem esse próprio parágrafo possui uma vida isolada, mas é parte da experiência individual de cada um e seu mundo, sua própria descoberta do mundo.

O conceito de figura-e-fundo, parte importante na Psicologia da Gestalt, é uma das dimensões que pode nos ajudar na busca dessa compreensão. Ao entrarmos num ambiente, por exemplo, uma festa noturna, cada um de nós dirige a atenção para um tema, um objeto, um lugar diferente. E mesmo que seja para o mesmo lugar, será com interesse, intensidade e movimento diferentes. Assim, o mundo que existe “lá fora”como “completamente separado”, de fato, não existe (dessa forma), a não ser em profunda conexão com o ser humano que o experimenta e o descobre. Uma coisa não existe sem a outra (ainda que possamos pensar que se não formos à festa ela vai continuar lá, “lá fora”; mas nossa experiência não estará lá, e a descoberta será outra). Um suco de laranja, uma cadeira de madeira, Paris, futebol, a próxima refeição, o trabalho de hoje, o presidente, uma xícara de café, 500 reais… isso tudo tem significados e existências diferentes e particulares para cada um de nós, e não há como existirem “completamente separados”.

“Dessa forma o mundo existe para um dado indivíduo como sua própria descoberta do mundo.”
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