Segundo os números mais recentes da OMS – Organização Mundial da Saúde – de fevereiro de 2017, o Brasil é o país com mais ansiedade no mundo: 9,3% dos brasileiros teriam algum transtorno de ansiedade, segundo a organização. Ou seja, 1 em cada 11 brasileiros tem algum tipo de ansiedade crônica. Isso responde a uma pergunta que muitas pessoas fazem logo nas primeiras sessões de terapia: “isso é normal?“. Segundo esses números, está se tornando, cada vez mais. O que difere é o tipo de ansiedade, a respeito de que, e como se sofre (e se trata) dela.

Os números da depressão também cresceram, e colocam o país na 5ª colocação mundial, com 5,8% da população brasileira recebendo esse diagnóstico. Ou seja, 1 em aproximadamente 20 brasileiros teria depressão, segundo a pesquisa. No mundo inteiro, são 121 milhões de pessoas com depressão. Segundo projeções da própria OMS, em 2030 a depressão deverá ser o principal problema de saúde da humanidade.

As causas e os tratamentos variam muito, de acordo com diagnósticos e abordagens terapêuticas. E de acordo também com a própria visão da OMS, que indica que “fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego, e ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades”, pesam nesse cenário.

Mas o agravamento da ansiedade e da depressão ao mesmo tempo pode ser uma indicação que não exista algo específico (de um e de outro) sendo disparado nestes anos recentes, e sim apontar uma situação mais endêmica de adoecimento geral. As condições diferentes e os diferentes tipos de pessoas, e suas respostas psíquicas, é que definiriam a ocorrência da ansiedade ou da depressão. Citando a teoria de campo de Kurt Lewin (1946), que diz que “para entender comportamentos, a pessoa e seu ambiente tem que ser considerados como uma única constelação de fatores interdependentes“, temos naturalmente que prestar atenção redobrada aos fatores ambientes que estariam desencadeando esse aumento em massa de ansiedade e depressão. Mas indo além do mapeamento da situação, o que isso pode estar fazendo é acelerando e manifestando os sintomas de pessoas com predisposição à ansiedade e depressão — mas que, em circunstâncias controladas, estariam dentro de uma normalidade, só que uma normalidade não sadia.

Assim, ao mesmo tempo em que há uma atenção importante a todos os fatores que compõem o todo (“a análise começa com a análise da situação como um todo” — novamente Kurt Lewin), permanece a preponderância da auto-responsabilidade, e o trabalho terapêutico que uma pessoa começa é no sentido de entender sua situação nessa realidade.

Como diz um ditado popular, nenhum grande navegador se tornou grande por navegar em águas calmas, e sim por ter atravessados mares revoltos, tempestades e situações adversas. Assim, também nenhuma pessoa que tenha conquistado a paz, a tranquilidade ou o equilíbrio mais estrutural conseguiram isso por manter suas situações externas plenamente controladas. Nesse sentido, o aparecimento dos sintomas pode ser uma oportunidade benéfica de se caminhar para a sanidade e a saúde fundamental na vida.

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