Nem toda experiência “espiritual” é sinal de expansão. Algumas são movimentos de regressão mascarados de transcendência. O terapeuta que trabalha no campo transpessoal precisa discernir entre estados ampliados e estados defensivos. Embora essa habilidade ainda possa estar na sua alvorada, já há suficiente critério e sinais para um discernimento correto – e necessário, uma vez que os casos se multiplicam.
Quando a pessoa “sobe” demais — com discursos de iluminação, amor universal ou negação do ego — pode estar fugindo de dores pessoais não integradas. O self espiritual é, às vezes, o disfarce sofisticado de uma defesa arcaica.
A regressão espiritual costuma vir acompanhada de idealização do mestre, desvalorização do corpo, ou recusa em lidar com aspectos sombrios. Em vez de expansão, há retração: a consciência se retira do mundo concreto para preservar uma identidade “pura” ou “sublime”.
A abordagem clínica requer firmeza e cuidado. Não se trata de desqualificar a experiência espiritual, que pode ter um grau genuíno de valor, mas de restaurar sua enraização e compreender porque ela também está servindo de escape ou bloqueio. O verdadeiro despertar amplia a realidade, não a substitui.
A maturidade espiritual passa por integração, não por evasão. A tarefa terapêutica é ajudar o buscador a distinguir o que é abertura real do que é fuga disfarçada de santidade.
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“As pessoas farão qualquer coisa, por mais absurda que seja, para evitar enfrentar suas próprias almas. Praticarão ioga indiana e todos os seus exercícios, obedecerão a um regime estrito ou dieta … tudo porque não conseguem lidar consigo mesmas e não têm o menor fé de que algo útil possa sair de suas próprias almas.”
_ CARL G. JUNG (em “Psychology and Alchemy”, CW12)
“Quando estamos fazendo bypass espiritual, frequentemente usamos o objetivo de despertar ou libertação para racionalizar aquilo que eu chamo de transcendência prematura: tentar elevar-se acima do lado bruto e bagunçado de nossa humanidade antes de termos completamente enfrentado e feito as pazes com ele.”
_ JOHN WELWOOD (em “Spiritual Bypassing & Human Relationship”)
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