A depressão é uma dádiva de Deus“, disse certa vez Marie Lousie Von-Franz (1915-1998), uma psicoterapeuta analítica e uma das maiores especialistas na obra de Carl Jung, criador da Psicologia Analítica. Não é uma frase dogmática nem religiosa, como pode parecer, tampouco leviana ou simplista, mas é um olhar profundo e respeitoso a um transtorno mental cada vez mais incidente nos tempos modernos. E o que significa essa afirmação de Von-Franz para o tratamento da depressão e de outros transtornos tão graves quanto ele?

Se for interpretada, como é, apenas como uma falha de um sistema psíquico, a depressão corre o risco de ser totalmente tratada como um defeito de um motor. Porque ela é um sintoma paralisante que afeta o funcionamento do sistema mental e biológico. A perda do ânimo, tristeza, anedonia, perda do apetite, perda da concentração, vícios, etc, são sintomas que afetam todas as áreas da vida de uma pessoa. O tratamento medicamentoso quase sempre é o preferido por essas mesmas pessoas, pela capacidade de reestabelecer, ao menos parcialmente, o possível equilíbrio cerebral e seu funcionamento, de forma mais imediata e imediatista.

O problema é que, embora alivie os sintomas, bloqueia um movimento que pode ser crítico e central que está aparecendo através do sintoma: um movimento salutar de crescimento.

Segundo Von Franz, a depressão pode ser um potencial sintoma de um processo interior profundo onde a estrutura atual do ego deve temporariamente ser quebrada “para que uma nova identidade mais integrada possa emergir”.

“O colapso do ego durante a depressão pode criar espaço para o Self (o centro da psique) se manifestar, levando a um novo sentido de significado e propósito”.

Veja como, se for tratada cegamente como falha motora, a supressão dos sintomas ou mesmo a tentativa de reestabelecer a “normalidade” em termos de bioquímica e funcionamento neurológico pode bloquear esse processo interior profundo. A depressão pode estar iluminando a falência de um sistema que vinha sendo usado até então pelo indivíduo como seu viver.

Von Franz chega a dizer que a depressão, do ponto de vista do indivíduo, “é a maior benção que alguém pode ter”. Ela justifica dizendo que “é a única maneira que esse indivíduo é provocado a olhar para dentro”.

Pela sua importância e gravidade, a depressão deve ser ouvida e observada profundamente, para que não seja atropelada e suprimida violentamente pelo tratamento medicamentoso. Como em todo processo terapêutica, a escuta ativa e profunda se dá também ao sintoma, e não somente ao indivíduo. Assim não se joga fora aquilo que talvez seja o principal de um tratamento e de uma crise individual.

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