Apesar da enorme quantidade e variedade de profissionais disponíveis hoje para atendimento psicoterapêutico nas principais cidades do Brasil e do mundo, encontrar um terapeuta que faça sentido e se conecte com nossas buscas e expectativas continua sendo uma tarefa delicada e criteriosa. E assim deve ser. Há importantes necessidades em jogo, como questões tão objetivas como a abordagem terapêutica, até fatores mais subjetivos como a conexão e a atitude do terapeuta — para não mencionar questões práticas como localidade, valor e disponibilidade de agenda. O site espanhol El País recentemente publicou uma matéria intitulada “Nove perguntas que você deveria fazer ao psicólogo antes de começar uma terapia“, da jornalista Manuela Sanoja, que embora não seja um guia definitivo para essa busca, é de interessante ajuda na tarefa de encontrar um terapeuta ou de como saber se um terapeuta já encontrado é adequado para o que você busca,
Por isso trago aqui as nove perguntas e as deixo com minhas respostas para que você possa saber como é o trabalho de terapia que é feito aqui.
Qual é sua especialidade?
Minha especialidade é a Psicologia Transpessoal, e dentro dela a Gestalt Terapia em conjunto com a Meditação. Por formação, tenho Pós-Graduação em Psicologia Transpessoal e Formação Profissional em Gestalt Terapia. Também tenho a Formação em Terapia Ayurvédica, com um estágio avançado na Índia, mas não trato como especialidade nos meus atendimentos atuais — embora, como a Meditação, o Trabalho sobre Sonhos, a Psicologia dos Eneatipos, a ArteTerapia, o Psicodrama e outras ferramentas, também faça parte corrente dos atendimentos.
Que tipo de terapia faremos?
Partimos sempre da Gestalt Terapia, que é baseada no desenvolvimento da capacidade de viver o presente. Assim como a busca da autenticidade, da maturidade e do auto-apoio. A Gestalt tem vários pressupostos importantes que são ao mesmo tempo fundamento e proposta de trabalho, como a auto-organização organísmica (a capacidade de um organismo de curar e se auto-organizar), a psicologia sistêmica, a teoria dos campos, a fenomenologia, o “dar-se conta” e a auto-responsabilidade. Diferentemente de outras abordagens que possuem técnicas bastante pré-definidas, a Gestalt possui poucas instruções pré-determinadas e abre grandes possibilidades para o contato presente, a criatividade e o que se apresenta em cada sessão. Isso corrobora os próprios fundamentos, como falei, como a fenomenologia, a teoria dos campos, a auto-organização organísmica e o contato integral com o aqui e agora. Além disso, a Gestalt é essencialmente uma abordagem que convida o paciente a participar ativamente do seu processo de insight e resolução, e onde o terapeuta não ocupa um lugar de conhecedor e diagnosticador distante, mas de participante da busca por soluções e cura. Isso faz da Gestalt uma abordagem praticamente sem roteiro, embora, por outro lado, seja um processo extremamente vivo, objetivo, profundo e completo. Sendo uma abordagem da própria Psicologia Transpessoal, a Gestalt também se abre às possibilidades transpessoais de uso de diversas técnicas, como a psicologia analítica de Carl Jung, e também a Meditação, que contribui imensamente para a tomada de consciência, além de desenvolver o processo de resgate do contato de cada pessoa com sua existência plena no momento presente. É vital conhecer um pouco da abordagem de cada terapeuta, e encorajo não só as pessoas a perguntarem, mas também a pesquisarem, selecionado bem as fontes (mesmo que seja através do Google), e sentindo se aquela abordagem lhe comunica caminhos para sua vida ou não.
Como sei se dará certo?
Muito difícil saber de antemão. É muito importante que o próprio profissional possa identificar isso nos primeiros contatos, ou no primeiro, preferencialmente. E possa reorientar a pessoa caso não seja um caso apropriado para seu perfil ou especialidade. Mas o próprio paciente pode também fazer sua parte, sentindo a química (que a própria matéria do El País classifica como “fundamental”), processando as informações a respeito da abordagem e também usando seu discernimento a respeito do que vê e sente a respeito do profissional.
Quanto vai custar?
Essa informação será disponibilizada apenas para quem tiver real interesse em fazer terapia.
Quanto tempo durará o tratamento?
Como a própria matéria diz, “responder esta pergunta é difícil até para o profissional mais preparado”, pois “há muitas variáveis”. É importante saber que nenhum processo terapêutico acontece em um mês, embora, para tratamento de sintomas mais graves, seja desejável algum resultado positivo o mais rápido possível. Mas, em geral, os processos requerem desde alguns meses até um ou mais anos. Algumas abordagens, como a Psicanálise, são conhecidas por acolherem processos terapêuticos que podem levar anos, até décadas (na verdade, Freud chegou a classificar o processo psicanalítico como “interminável”), enquanto outros, como a Cognitivo-Comportamental, buscam ser mais breves e trabalhar em cima de objetivos pontuais. A Gestalt é, por natureza, uma terapia com potencial de curto a médio a prazo, e pela experiência que tenho até hoje, vejo que um processo relevante varia em torno de 6 meses a 2 anos. Claro que as pessoas que ultrapassam esse período se beneficiam cada vez mais, mas hoje isso está mais dependente de disponibilidade de tempo, disponibilidade financeira e desejo de se aprofundar.
E se eu precisar de medicação?
Pela minha própria formação e perfil, não receito remédios, a não ser naturais, fitoterápicos ou ayurvédicos. A maioria das pessoas que recebo que tem alguma relação com medicação é justamente para o processo contrário: para retirar a medicação existente. A abordagem gestaltista e transpessoal é a que considero mais eficaz e sólida para acompanhar e preparar o processo de retirada de medicação, pois trata as questões de maneira profunda e plenamente consciente, permitindo à pessoa compreender sua situação e desenvolver os passos de recuperação necessários, além da segurança e confiança para poder sair da medicação. É fundamental salientar, no entanto, que a retirada da medicação em si é feita somente pelo próprio médico que a receitou e administrou, e jamais por mim ou qualquer outro profissional. Caso a medicação esteja sendo tomada por conta própria, será recomendada expressamente a consulta a um médico psiquiatra para a correta avaliação e acompanhamento de cada caso. A situação da medicação tem sido muito delicada e necessita de amplo cuidado. Possuo colegas que são médicos psiquiatras respeitados que podem fornecer apoio caso seja necessário, e sempre trabalho com os médicos já consultados pelos pacientes que trabalham comigo.
Como saberei se o tratamento está funcionando?
Na imensa maioria dos casos, nós sentimos isso muito claramente. Em minha abordagem, isso é sempre muito percebido e tratado abertamente. A única variável que pode distorcer essa percepção é algum mecanismo de negação do próprio ego, que também, pelo menos nesta abordagem, trata diretamente, se apoiando na confiança básica de cada pessoa conhecer e decidir sobre seu processo e rumo.
O que devo fazer se não notar uma melhora?
Conversar com seu terapeuta e analisar sua própria atitude e participação nas sessões. Em primeiro lugar, é possível que o processo esteja estagnado ou não esteja funcionando. Se houver uma concordância entre você e o terapeuta, a reavaliação ou reencaminhamento será a melhor solução. Há vários casos, no entanto, em que a estagnação ou a “demora” fazem parte do processo (o próprio conceito de demora pode ser parte do problema). Em ambos os casos, a conversa aberta e a busca de soluções convergentes é a melhor solução.
E se recair ao terminar a terapia?
Na minha experiência, acontece raramente. E as recaídas graves só acontecem quando o paciente sai por vontade própria antes de um acordo de que está findo o processo. O que obviamente aponta para a evitação da solução mais definitiva (por isso a saída). As recaídas que acontecem após o processo ter findado são quase sempre de menor grau, e em 100% das situações o paciente tem a consciência e as ferramentas suficientes para trabalhar sobre elas. Segundo algumas abordagens, como da Psicanálise de Lacan, as recaídas são naturais pois o que é desejável é uma nova relação do paciente com seus sintomas (nunca o fim definitivo deles), e de certa forma há uma concordância com esta abordagem, pois assim como é impossível de garantir que não haja recaídas, pois todos somos humanos, também é inevitável que o paciente estará em outro patamar de consciência e atitude perante sua manifestação. Caberia assim a cada abordagem desenvolver sua forma de desenvolver a consciência sobre os sintomas e os problemas, assim como sobre as ferramentas e atitudes em sua experiência.
Uma última adição, tão importante quanto as respostas acima, é sugestão de incluir sua intuição nessa busca. Nosso inconsciente, ou super-consciente, se comunica conosco pela intuição a todo momento, nos informando e orientando sobre a realidade que nosso consciente não vê. Para abrir-se a ele, é necessário primeiramente relaxar a mente e abandonar momentaneamente preconceitos, critérios e quaisquer outras limitações que podem afetar a bússola da intuição, que não conhece limites. Às vezes um abordagem terapêutica que desconheço me chama alto. Outras vezes acabo gostando mais de uma terapeuta mulher, mesmo que eu comece mais determinado a fazer com um terapeuta homem. Em alguns casos, buscamos um psiquiatra, pois imaginamos que com remédios será melhor, mas acabamos gostando mais de uma terapia alternativa. Enfim, você captou a idéia. É simplesmente se abrir para além do conhecido, e continuar usando seu discernimento, mas agora incluindo sua intuição, suas sensações subjetivas, e o mistério. Geralmente esses encontros não são aleatórios, como se costuma crer.
Em termos básicos, essas são respostas de minha parte e de minha abordagem. Se houver dúvida, por favor, pode comentar que respondo, e isso inclusive pode servir a outros que lerem e tiverem a mesma dúvida. Ou, alternativamente, estou à disposição pelo contato deste site ou telefone. Fique à vontade para escrever ou telefonar.
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