Os sintomas estão cada vez mais saindo do campo do a-ser-suprimido para o campo do a-ser-observado (e aceito e compreendido e liberado). Embora, tanto no dia-a-dia, com nossa cultura de auto-medicação e evitação predominantes ainda exista uma imensa supressão, e também em alguns consultórios de tratamento psicológico, especialmente na Psiquiatria e em algumas abordagens psicoterapêuticas, ainda há muita orientação supressora. Ela não é de todo má, principalmente nos casos mais graves, de sofrimento agudo, mas não pode ser a única, nem a principal, abordagem.
Na clínica gestáltica, o sintoma não é um inimigo a ser eliminado, mas um sinal vital a ser observado, pois geralmente é uma tentativa do organismo de se autorregular diante de algo que perdeu continuidade. Ele é, antes de tudo, um esforço — ainda que desajeitado — de restauração da totalidade. E sobre os sintomas originais ainda pode haver, como geralmente há, uma camada de mecanismos de defesas tentando impedir o contato com o sofrimento – com a ansiedade, a angústia, a tristeza. Já se tornou conhecido o exemplo do médico Gabor Maté, especialista em traumas, que menciona a TDA como uma defesa contra o contato com a tristeza e o sofrimento – é uma recurso de “desligamento” do contato com o problema.
Anna Freud enfatizou que os sintomas não são arbitrários, mas expressões significativas de conflitos subjacentes, melhor compreendidos dentro do contexto da vida e do desenvolvimento da pessoa.
Quando alguém chega com ansiedade, insônia ou culpa, o sintoma costuma ser a forma possível de contato com um campo interrompido. A ansiedade, por exemplo, pode estar tentando restabelecer uma excitação criativa bloqueada. A insônia, uma necessidade de vigília diante de algo não elaborado. A culpa, um chamado para reintegrar valores dissociados.
Note, deste ponto de vista, então, como imediatamente remediar a ansiedade, a insònia e a culpa pode ser um grave equívoco. Pode ser a supressão de um último recurso o que um sistema está tentando fazer para reequilibrar sua saúde e informar um problema.
Na Gestalt, o terapeuta não “cura” o sintoma, mas o acompanha até que ele revele a função que cumpre. É o que Perls chamava de “awareness no campo da necessidade”. Em vez de combater a dor, o trabalho é de ampliação da consciência sobre o que ela está tentando ajustar.
O sintoma fala em código: traduz tensões entre o que foi reprimido e o que quer emergir. O olhar junguiano soma-se aqui: todo sintoma é uma imagem simbólica do inconsciente pedindo passagem. Escutá-lo é escutar a vida tentando se reorganizar. É clássica a afirmação de Carl Jung de que “A doença é o esforço que a natureza faz para curar o homem.” (em “A Prática da Psicoterapia”)
A cura, então, não é suprimir o sintoma, mas compreender o movimento que ele representa. E permitir que ele complete o ciclo que um dia foi interrompido.
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